de António Sérgio
«É o cooperativismo, muito principalmente, um movimento de reforma moral e social, feito pelo povo por acção libérrima, sem a mínima dependência dos maiorais do Estado. Pretende abolir os antagonismos de interesses, tornar possíveis as relações amigáveis em todas as circunstâncias do nosso viver comum,
assentar a sociedade sobre o auxílio mútuo, suprimir as barreiras profissionais e de classe, abrandar a dureza das necessidades económicas, e em suma instaurar uma civilização mais nobre, que mereça apelidar-se de «civilização cristã», de acordo com a moral da fraternidade evangélica. É a busca de uma democracia de cunho popular cem por cento, por isso que realizada pelo próprio povo, - e não por políticos que se impõem ao povo e que dizem proceder como delegados seus; é o anseio da paz e da justiça sociais alcançadas por caminhos imediatos e directos, evitando-se o circuito das intrigas partidárias, das assembleias legislativas, das rivalidades de grupos, das ciumeiras dos chefes, dos maquinismos burocráticos, das azáfamas dos ministérios. Crê o cooperativismo que não falta ao povo a capacidade para emancipar-se por sua acção quotidiana (dado que um escol de individualidades cultas lhe ensine os processos de que deverá servir-se) e que são sim os povos empreendedores e enérgicos que suscitam o aparecimento dos seus bons governos, e não os governos que melhoram os povos, ou que outorgam a estes a verdadeira ordem, ou que estabelecem num país uma justiça autêntica. A justiça social só será um facto quando for construída pela própria Grei, sem recurso aos agentes do poder central. Tal o objectivo, o programa do cooperativismo: e «socialismo libertário» lhe chamo eu por isso.»
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