«“Doing Time Doing Vipassana”, o documentário sobre a introducão da meditação num presídio da Índia, na íntegra.
Que motivações e atitudes nocivas resistem a um olhar franco, completo e aberto de um ser sobre si mesmo? E quais se proliferam ou se repetem depois disso?
O objetivo da introdução da Meditação Vipassana na Prisão de Tihar, em Nova Delhi (Índia), em 1994, documentada no filme “Doing Time Doing Vipassana” (1998), que segue na íntegra abaixo (52min) legendado em português, foi de dar instrumentos para as pessoas encarceradas lá – cerca de 10.000 na época – lidarem com os problemas que as levaram pra lá; e de dar ao presídio, por sua vez, uma nova alternativa para lidar com a alta reincidência dessas pessoas no crime. O filme de Eilona Ariel e Ayelet Menahemi, acompanha a montagem e realização do “retiro” andando de perto com a Inspetora Geral daquela instituição, Kiran Bedi, nessa bem-sucedida experiência Vipassana no Tihar.
Significando literalmente “ver claramente” ou “ver profundamente“, às vezes traduzido também como “ver a realidade das coisas” ou “ver as coisas como realmente são“, Vipassana é uma meditação conhecidamente budista (algumas fontes dizem ser uma meditação mais antiga que Buda, e que Buda teria redescoberto) e sua forma mais tradicional de aprendizado e prática é um retiro de 10 dias (que foi o que aconteceu no experimento do filme). O ensino como foi realizado no documentário é do mestre indo-burmês Satya Narayan Goenka, ou S.N. Goenka (1924-2013), mas outros mestres também ensinaram Vipassana, como o tailandês Ajahn Chah (1918-1992) e americanos como Jack Kornfield, Sharon Zalsberg e Joseph Goldstein.
Embora a introdução da meditação na prisão possa parecer algo aparentemente “longe” de nós, é um evento que fala muito diretamente a quem não está encarcerado ou cumprindo alguma pena. Por um lado, quebra o mito que alguém com um tipo de comportamento em tese tão inconsciente quanto um que cometa um crime pode não aprender nem ser beneficiado pela meditação. O real divisor de águas pode ser, na verdade, o interesse. E ainda que possamos nos separar dos presidiários pela classificação do crime, a meditação Vipassana não é dirigida a um tipo de prisão (externa) nem a um tipo de inconsciência, e neste campo todos podemos nos beneficiar de um olhar profundo e claro. E como os encarcerados em Tihar, também sofremos de reincidência.»